sexta-feira, 29 de junho de 2007

LENDAS DE FAMÍLIA.

Toda família tem suas histórias. Muitas delas preenchidas de altas doses de exagero e fantasia. O fato é que esses casos correm à boca pequena, e todos, sem exceção alguma, não hesitam na hora de afirmarem suas participações como testemunhas oculares do fato, ainda que tenham nascido, anos ou até mesmo décadas depois do ocorrido.
Tem uma história que permeia minha família, desde que eu me entendo por gente. Não sei se é verdade ou mentira. Sei que foi confirmada por muitos, pode parecer loucura, mas quem é que iria inventar um troço maluco desses? Pois a história é a seguinte, ah, antes de tudo, vou lhes apresentar o pessoal, o elenco. hahaha.
Rita era a minha vó por parte de mãe, a mais nova das irmãs de uma família de quatro filhos, Tereza, Francisca, Luiz e Rita. Antigamente o calendário do mês de junho era marcado, sobretudo por festas, bailes e comemorações. Os meus bisavôs tinham se mudado, fazia pouco tempo, para uma cidadezinha no interior de São Paulo, perto de Bauru, nessa tal cidadezinha os bailes de São João eram muito comuns e logo a Tereza, irmã mais velha da minha vó, animou-se a participar. Não sei bem qual o motivo, porém, lá pelas tantas, um dia qualquer, já entrando no dito mês, o meu bisavô acabou que proibiu terminantemente a filha de participar das festividades. Essa, por sua vez, se trancou no quarto, batendo a porta com estrondo e colocou-se a berrar lá de dentro que iria no baile nem que fosse acompanhada do diabo. Passou um tempo até que a menina por fim se acalmou, deram a discussão por encerrada, e durante duas semanas ninguém tocou mais no assunto. Porem na ultima semana do mês, certo cair de tarde alguém batera na porta dos Andrade, Luiz que ainda era bem moleque nessa época abriu a porta e deu de cara com um distinto cavalheiro que perguntava por Tereza, sua irmã. O sujeito fora convidado a entrar enquanto minha bisavô passava o café, postou-se a conversar com o meu bisavô, de maneiras nobres, o gentil desconhecido logo cativou o velho, passado algum tempo deixou a casa acompanhado de Tereza, cujo consentimento dos pais, dirigia-se para o baile que a essas já estava a toda. Nesse dia, Tereza demorou-se a voltar, chegou em casa por volta das 10 da noite, o que para uma menina de 15 anos, naquela época, era um abuso e tanto para a paciência do meu bisavô, que já não era muita, deve-se dizer. O que contam, e isso na minha família e coisa que ninguém nega, é que a partir desse dia Tereza nunca mais foi a mesma pessoa, tornara-se calada, arredia, muitas vezes agressiva, ficava horas e horas sozinha, geralmente no quarto, nunca mais voltou a tocar as mãos numa bíblia, passava longe da igrejinha da cidade e nem mesmo de bailes ou festas voltou a participar. O cavalheiro que a acompanhara até o baile nunca mais foi visto. Contava um outro primo que certa feita, passando bem em frente a um desses salões onde as pessoas dançavam até o raiar do dia, olhou pela fechadura da porta e viu lá dentro no exato momento em que o seu relógio marcara meia-noite, a imagem de dezenas de diabinhos dançando, todos de ponta cabeça. E disse ainda, e isso é coisa que me lembro embora fosse ainda criança – Era sabido por toda a cidade que naquela noite a sua tia Tereza havia dançado nos braços do Satanás - Fez o sinal da cruz. Minha mãe logo mudou de assunto. Eu era criança e aquela foi a primeira de tantas outras vezes que ouvi a mesma história, cuja conclusão sempre fora, da minha parte, a mesma.
Vai saber.

2 comentários:

Alessandro disse...

Mas será? Oh, deabos!

Rafael Mafra disse...

Deabos, Deabos!
O Capeta está aqui dentro!

Ótimo texto!

Abraços!