domingo, 17 de junho de 2007

NOVE MILHÕES DE DIAS CHUVOSOS.

Sentada na frente do computador quebrado
unhas partidas, pintadas de vermelho-sangue
dedos que denunciavam o império da velhice
impregnando-lhe os braços, o pescoço, a boca
cabelos tingidos de neve e olhos perdidos de Lorax
digitando, tentando - como se catasse milho
e o computador desligado.
(TECLA TECLA TECLA)
enquanto o sangue escorria
(TECLA TECLA TECLA)
enquanto a noite descia
(TECLA TECLA TECLA)
e a sua alma era fria
olhou para a tela negra, apagada, quebrada
sentiu suas dores expostas, viu suas flores mortas - chorou.
Olhando pela janela viu o pássaro acenando
lá do alto daquela nuvem estranha
ou seria uma montanha?
lembrou-se de quando era bela
lembrou-se de quando era ela
e parada esperando ainda
tentou acender um cigarro
tentou engolir o catarro
daquele império feito de barro
e lá se foi outro gole
e se seguiu outro porre
pois lá estavam estampados também os seus vícios:
uma unha quebrada, pintada de vermelho-sangue
e a solidão sufocante - essa, a pior de todas
daquelas que matavam aos poucos,
enquanto o tempo escorria,
escorria,
e
s
c
o
r
r
i
a........daquela unha quebrada.

(ao som de Nine Million Rainy Days - Jesus and Mary Chain)

Um comentário:

Rafael Mafra disse...

Essa entra no grupo "poesias de apartamentos" da minha cabeça. Adoro essas!
Abraços!