terça-feira, 12 de junho de 2007

A música, outro ritmo

Depois de pensar em Oração ao Tempo, do Caetano. Depois de pensar em Dalí, enquanto o tempo se desfazia...


A Música, Outro Ritmo

Saudade do tempo em que o tempo não precisava ser conquistado. Simplesmente estava lá, para nós.

Era uma quimera...

É que sempre há o momento em que ele se rebela - ou será a vida? Sim, a vida é que se torna outra e fazemos qualquer coisa com o tempo, sem percebermos. E ele vai embora, sem percebermos.
O tempo que volta. O tempo dos apaixonados, dos que querem mudar o mundo.
Houve um tempo, Miriam, em que o poeta escrevia pra você, mas jamais mostrava. Você não pode se lembrar, porque só agora eu lhe digo.

Quando percebe, você se assusta. Vejo agora em sua fisionomia. Vi anos atrás, também. Você me faz querer rezar. Mas é justamente o que não faço. Posso, no máximo, desejar sem esforço que o tempo se torne novamente seu aliado. Apenas isto, porque, de qualquer forma, o tempo me mata. E é melhor o desejo sem esforço porque qualquer esforço é inglório.

É, com o passar dos anos... eu comecei a duvidar de sua relação com o tempo. E a dúvida cresceu até virar certeza do fracasso. Esta é a verdade.

Eu nem sei porque falo. Tudo continua como antes: ouvíamos a mesma música, mas não marcávamos o mesmo ritmo, com os pés.

O poeta, meu bem, aquele poeta que escreveu pra você... está morto. Eu o matei anos atrás, mas você não soube de nada. Matei-o da forma mais óbvia, sabendo que você não poderia saber. Fiquei ao seu lado, e isto você sabe bem.
O tempo que trai. O tempo do último leito... haverá a chance de dizer adeus?
Não podemos caminhar juntos agora, por causa de nossos ritmos, que são outros para cada um. Não somos capazes de dobrar o deus inflexível e caprichoso aos olhos de quem não entende. Mas ele... ele, sim, nos junta ou nos afasta. E mudar isto, ah... mudar isto...

Como, se não conseguimos entender a nós mesmos?




Um comentário:

Alessandra Queiroz disse...

Ah Hermanito como é forte suas palavras!!!
Ah o tempo esse ser invisivel que nos devora, nos assusta e voa, voa sem asas, sem receio e nós seres mortais o vemos passar como o metrô perdido, como tanta coisa esquecida!!!
Alê belo texto!

biseaus