quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

beber com chinaski


só vim curtir um som
beber com chinaski
todas as letras minúsculas da vida
um cigarro apagado entre os dentes
que mordem nervosos
porque é o último
e o melhor tem que ficar pro fim
mesmo que o fim seja sempre
agora
dizem que eu tenho esperanças
agora
dizem que eram apenas máscaras
só agora
dizem tudo isso
mas eu nunca disse que era o contrário
nem que era nada
mas era nada
bebo um gole mais com chinaski
e ele fica imóvel
eternamente soltando a fumaça do cigarro aceso
na fotografia do livro que comprei dum velho numa banca velha no centro velho e mais atual que nunca do centro da cidade
o fôlego aperta
um gole a mais
são os pulmões reclamando
percebo um sorriso jocoso na fotografia
é o chinaski tirando sarro
mas o cigarro continuará apagado
enquanto eu não termino de escrever

Uma do velho.

(Porra! A merda do teclado falhou!)
J[a que o Narco n'ao vem ao Prophanos, algum prophano vai at[e o fotolog do corno e traz uma poesia do padrinho?

noite de Natal, sozinho
noite de Natal, sozinho.
num quarto de motel
junto à costa
perto do Pacífico -
ouviu?

eles tentaram fazer desse lugar algo
espanhol, há
tapeçarias e lâmpadas. e
o banheiro é limpo, há
minibarras de sabonete
rosa.

não nos encontramos por
aqui:
as piranhas ou as damas ou
os alcolatras ou os
adoradores de ídolos.

lá na cidade
eles estão bêbados e em pânico
furando sinais vermelhos
arrrebentando suas cabeças
em homenagem ao nascimento de
Cristo, e isso é ótimo

em breve terei terminado esta garrafa de
rum porto-riquenho.
pela manhã vomitarei e tomarei
banho, voltarei para
casa, comerei um sanduíche à uma da tarde
estarei no meu quarto por volta das
duas,
estirado na cama,
esperando o telefone tocar,
sem responder,
meu feriado é uma
evasão,
minha razão não é.


Charles Bukowski - noite de Natal, sozinho

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

"O livro" e outros textos, meus e não-meus

Humm... antes isso que a insônia... será?


O Livro

É nisto que o homem pensa, deitado em sua cama, virando as páginas do livro que não lê: a dinâmica dos dias, tudo sempre tão perto, tão longe.

Tudo tão rápido.

Aproximação e afastamento. O desejo daquela mão acariciando os cabelos, mas que não há mais no próximo momento. Ou há. Ou não se admite isto. O que acontece com estas pessoas?

Assim, há de passar desejo após desejo, cada vez menos intensos, cada vez menos belos. Porque há algo de belo em pessoas apaixonadas, assim como há algo de belo em pessoas tristes.

Tenebroso, este mundo. Cinza demais para quaisquer olhos. Só a metrópole, assassinando sonhos. Só a metrópole.

Só, o homem não percebe, mas já dorme. E com um movimento involuntário de mão, fecha o caderno em que escreverá seu próximo livro.

Bom, a verdade é que acordei cedo demais para o meu padrão recente. Não que eu devesse reclamar. A maioria das pessoas... bem, o comentário é dispensável e tudo que quero é ficar de bem com o dia.

Mas já que falei em insônia lááááá no comecinho do post, encontrei pela manhã essa breve lucubração do Sr. Ramón Alcântara:

Insônia Existencial

não dormi

e não acordei
de olhos abertos
meu pesadelo só eu sei

Então senti-me inclinado a respondê-lo e aconteceu isto:

acordar de um pesadelo a cada manhã
acordar para um pesadelo a cada...
acordar num pesadelo e ainda

ter poesia

quem me dera simplesmente bastasse!

Querem saber? Vou fazer o dia ser útil a mim.

E, sim, devo voltar aqui pra postar outros textos não-meus.

Beijos e abraços prophanos!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Aluir


O mundo é ridículo. Mas desta vez é sério, eu vi na televisão!

Enquanto vivemos, inventamos, sim, prolixidade e pleonasmos. Enquanto continuamos, estacionamos engarrafamentos que sirvam aos pedágios ambulantes e inconstantes. Pagamos o preço que a civilidade exige para financiar nossas frustrações. Nas escolas, ensinamos o verbo errado e depois lucramos com manuais plásticos de conjugações ou livros de auto ajuda para iludir. Para aluir. Nossa moral não é senão argumento de venda para que compremos e paguemos em dia todos os nossos pecados. Nossos equívocos fingem que estão apenas justificando a regra. Nossos sorrisos, premeditando o choro que premedita outros sorrisos. Nosso silêncio, apenas abrindo espaço para o caos... na verdade, abrindo as pernas para o que julgamos normal. Ele apenas alimenta com migalhas o garoto que morrerá por fome de qualquer jeito; alimenta nossa raiva e mais ainda nosso cú, que a engloba; alimenta nosso insaciado tesão, que exemplo melhor?

Enfim, que seja. Não são novidades. Também fiquemos em paz, assim como as crianças que fingem ainda não terem entendido nada disso.

domingo, 9 de dezembro de 2007

ignobile


Quando vejo fotografias antigas, e nelas vejo crianças, penso no que se transformaram e perco a vontade de ter filhos. São ignóbeis as crianças, quando adultas. Tanto faz o que significa ignóbil, elas crescem e não aprendem mesmo. E se aprendem, são insuportaveis.

Quando vejo fotografias recentes, e nelas vejo crianças, penso por um ou dois segundos que poderia das uma chance à esperança. Mas no terceiro segundo me lembro que a esperança não passa de uma puta.

Quando vejo no espelho toda aquela coisa, penso no que significa tudo aquilo; no que significamos. É inútil. Ignóbil. Estamos apenas nos divertindo com migalhas.

Que as crianças fiquem em paz.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

República do vazio lírico


República do Vazio Lírico

votam impostos

e as crianças têm de sair às ruas
vendem doces e salgados para poder comer
o pai não trabalha mais

o homem de terno e gravata tão empreendedor, tão orgulho-da-mamãe, não vê
nem mesmo eu (me) vejo, às vezes

há distribuição de presentes no morro
mais uns a distribuir balas em algum lugar

em qualquer lugar

ninguém com alma e
com tempo
para sentir a vida e
saber que pode ser diferente


carnaval, novela, futebol...
o transporte lotado, o sol na cabeça...
o sorriso sem dentes no eme-esse-ene
o breve flerte no barzinho
vão sortear a mega-sena
temo que meu amigo ganhe e acabe assassinado
pela esposa


lugares comuns...

lugar comum, minha queixa também
a poesia (contida aqui?) não vai mudar o mundo

e, pelo meu, já fez o que pôde
mas no final, nada sobra

talvez as palavras perdidas em folhas amarelas
ou lugares que ninguém visita

um limiar nos alcança
a barreira do suportável já é bem clara


quem enxerga?

a terra será vermelha mais uma vez
e ninguém poderá chorar
porque o que poderia ter sido feito
não foi

este é o nosso lugar
de belezas descomunais

de todas as cores do arco-íris

esta é a nossa bandeira
a ser hasteada a meio-pau

esta é a nossa república do vazio lírico


Beijos e abraços prophanos ao povo brasileiro!