sábado, 21 de julho de 2007

Novos lábios que me tragam ( ou A garota cujo ventre fumava)

Quando as drogas foram liberadas e a propaganda de cigarros voltou a ser permitida e livre de qualquer censura, o hábito de fumar ganhou um forte incentivo do governo.
Havia uma garota que não fumava, mas sempre trazia algum cigarro entre os dedos na escola para não despertar suspeitas. Qualquer jovem que contrariasse as modas ditadas pela mídia era visto como subversivo e mantinha-se sob constante vigília policial. Estava no páteo da escola enquanto aguardava o início da primeira aula. Vestia uma saia cinza e não usava blusa. Os seios à mostra era moda nos colégios, o naturismo era quase um dever social. Num determinado momento, essa garota teve uma percepção de seu corpo até então ignorada: seu sexo respirava. Colocou a palma da mão entre as pernas e sentiu um sopro que vinha da própria vagina. Gostou daquela sensação. Seu sexo inspirando e expirando num ritmo totalmente independente do seu pulmão como se fosse outro ser era uma novidade.
Um outro ser poderia ter outros gostos, poderia ter sua própria intimidade, melhor, poderia 'ter intimidade'. A intimidade era algo combatido pela mídia. Entedia-se intimidade como pudor, e o pudor estava proibido desde que a garota nasceu.
- Se meu ventre tivesse seus próprios gostos, talvez gostasse de cigarros? – numa atitude instintiva, garota levantou a saia, abriu as pernas e pôs o cigarro em seus grandes lábios, oferecendo um dos maiores prazeres atuais àquela que, de repente, tornara-se um ser alheio ao resto do corpo.
Para a surpresa da garota e de todos que estavam em volta. Seu sexo gostava de cigarros. Tragou como se fosse uma boca viciada e soltou a fumaça, não sem antes, provocar um prazer intraduzível à garota e a todos que contemplavam à cena. Todas as aulas de sexo bizarro ou masturbação que aprendeu no primário não previam aquela forma de prazer. Era uma descoberta sua. Sentia-se orgulhosa por isso.
Mas não havia novidade que pudesse manter-se em sigilo. Em poucos minutos, os professores foram avisados da nova experiência e a garota foi imediatamente levada para o anfiteatro da escola para que demonstrasse sua performance. Mas quando a tímida garota se viu rodeada de homens e mulheres com câmeras e celulares ligados na espera de algo que até então era particularmente seu, ficou envergonhada e não quis levantar a saia.
Essa reação foi vista pelos diretores como um ato de "Reivindicação de Propriedade Corporal". A garota foi presa por pudor e moralidade excessiva.
A garota, cujo ventre fumava, firme em sua opção de não expor teu sexo à mídia nem promover a indústria do tabaco. Foi torturada e estuprada, descobriu-se grávida e doente. Sem forças para lutar, acabou enfim, por ceder o direito de transmitirem em rede nacional aquela descoberta que lhe provocou tanta dor.
Passaram-se meses e centenas de maços foram consumidos pelo seu ventre sob os olhares curiosos dos telespectadores. Seu corpo franzino e já castigado não suportou o parto e pereceu.
Seu ventre foi retirado para pesquisas científicas, e sua aptidão para tragar cigarros continuou uma incógnita. A criança ainda viveu por alguns dias. Foi batizado de Carlton. Carlton, uma linda e cinza criança, cujo ânus tossia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tabaco afrodisíaco!
Tenho que ter esse vicio na minha galeria

rsrsrsrs

Um abraço

Subverso Livros disse...

Sexo hardcore num 1984 mais otimista - taí o nosso conto erótico pro zine. e por falar em zine....