segunda-feira, 28 de maio de 2007

Memorial da rua sem saída.

Durante o tempo em que escrevo, minha cabeça alaranjada derrete como margarina e escorre pelo chão de madeira do escritório onde o telefone não toca,
Fiquei te esperando enquanto milhares de anjos sujos voavam em volta da luz de um poste que eu havia erguido para me servir de estrela em outras noites, bem frias....
Folhas de alface fossilizadas no fundo da geladeira com a porta aberta – congelando,
Noite morna como nunca imaginada – não há nada aqui fora, não há nada lá dentro.
Um velho tenta varrer toda a ferrugem da calçada -
Carros azuis em tons foscos estacionando fumaça & mulheres de silicone e seus filhos com cérebros de fliperama....
Enquanto invento mil estórias falsas de amor para serem publicadas em folhetins de faculdades branco-e-pretas-sem-graças com seus cursos de advocacia e o diabo à quatro.
A noite cai como se fosse tinta preta sobre nossas risadas amarelas, e os prédios abrem seus olhos mortos animados por vacilantes lâmpadas chinesas atrás de cortinas coloridas com estampas tropicais e coisas sem nexo assim....
O dia deslizou ralo abaixo e a geladeira escorreu pelo chão,
Tentei esticar minha língua e matar a sede e matar a saudade e matar o tempo e matar e matar e matar... até (quem sabe) curtir a minha vida mais ou menos.
Não há resquício de otimismo que saia de dentro da minha boca bocejante,
Nas ruas – gente de todos os semitipos com seus dedos de controle remoto - num patético vai-e-vem inútil... como se tudo fosse tão sério e urgente
E eu que pensava que escrever era ócio.

Um comentário:

Alessandro disse...

Que maravilha, hein!

Imagens, quantas imagens e cores... parabéns, Paulinho!

Agora devo fazer meu "debut" por aqui. :-)

Abraço!