terça-feira, 29 de maio de 2007

CORPORAÇÃO ROCK AND ROLL

O cara atirou a guitarra bem longe, lá pros fundos do palco e bateu cinco vezes a cabeça no amplificador até que o sangue começou a esguichar como se fosse porra. A multidão aplaudia e imitava.
O baixista (com um cigarro no canto da boca) ainda tocava o seu instrumento – era o último. O baterista tinha caído fora meia hora antes com uma groupie e seus braços marcados.
O empresário comentou preocupado com um de seus assessores:
- Esse maldito filho duma cadela nunca mais vai conseguir compor uma linha.
- Temos uma sala cheia de compositores de borracha. - O tal assessorzinho-de-merda tentou tranqüiliza-lo.
- Desligue a chave geral! - Ordenou o comandante mor da gravadora gigantescamente multinacionalizada
E as luzes foram apagadas e a multidão incontrolável subiu no palco e invadiu os camarins enquanto o baixista ainda tocava (a essa altura o cigarro da sua boca já havia apagado).
O guitarrista subia nas caixas de som e saltava de cabeça no chão.
- Nós queremos canções de amor!
- Nós queremos canções de amor!
- Nós queremos canções de amor!
Cinco ou seis menininhas gritavam horrorizadas esvaziando os extintores enquanto yuppies japoneses disfarçados de hells angels botavam fogo nas cortinas.
A policia chegou logo e levou cerca de vinte pessoas em cana, os outros saíram em fila indiana e foram conduzidos até a Fábrica de Arames Farpados.
O empresário ligou as sete da manhã para a casa de espetáculos perguntando pela sua banda.
- Tem um cara lá no palco estirado como se estivesse morto. - Comentou a atendente.
O corpo de bombeiros e toda a comitiva da MTV apareceram meia hora depois com holofotes e máquinas fotográficas imensas à procura de informações do Último-Grande-Idolo-Adolescente-Ou-Algo-Assim.

NOTA DA GRAVADORA PARA A IMPRENSA:

Lamentamos informar senhores, mas o sujeitinho amalucado não sofreu nenhuma overdose e tampouco tentou suicídio. Não passa de uma gripe repentina, já tomamos as devidas precauções com antibióticos e analgésicos, portanto fiquem tranqüilos, embora vocês não tenham uma grande manchete para o seu jornalzinho-de-meia-
tijela – parece que continuaremos com o velho entretenimento para nossas crianças acéfalas nas próximas semanas.
Atenciosamente,
Senhor Pastiche.

RELATOS DE UM ROCK STAR APOSENTADO CERCA DE VINTE ANOS MAIS TARDE:

- Eu me lembro bem desses encontros, ficávamos horas e horas conversando e fumando baseado, era um atrás do outro e às vezes pintava um troço desconhecido e a gente entrava de cabeça, não tínhamos muita coisa a perder (pelo menos era o que a gente pensava), foi uma grande época, liberdade era o nosso lema, quebrávamos televisores e telefones públicos, espancávamos as groupies e depois dávamos uma grana preta para que elas não abrissem o bico, evidentemente que em certas ocasiões isso não era possível de modo que encarávamos uma ou duas semanas com insuportáveis crises de abstinência atrás das grades até que o nosso empresário aparecesse do nada com uma mala cheia de verbos e tirasse seus-pequenos-moleques-delinquentes dali.

2 comentários:

Mhel disse...

que é isso?
o que andam colocando no seu nescau, amigo?
ah, lembrando, manere também com seu prozac, ele não é a solução!

Rafael Mafra disse...

Pena que escritores não tenham vidas assim. Bem, não extamente dessa forma...
Abraço, doido!