quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A LOCOMOTIVA CHINESA

No ano de 1816 um navio chinês afundou nas águas do Oceano Indico, já perto da costa de Madagascar. Aportara cerca de trinta dias antes das Índias Orientais e carregava uma preciosa carga para a época: uma locomotiva com quarenta e quatro vagões, um presente do Imperador Tang para Dirceu Pontes, o famoso cantor de música popular portuguesa que encantava as platéias de Paris à Pequim desde o final do século XVIII. Dizem que a tal locomotiva tava recheada com uma carga no mínimo sinistra: milhares de caixões de cidadãos chineses que haviam morrido em uma devastadora e desconhecida epidemia. Na verdade, o Império Chinês queria livrar-se daqueles corpos com medo de que pudessem contaminar o resto da população, então os cerca de dez mil corpos foram colocados em caixões individuais, lacrados e a intenção era atira-los ao mar assim que o navio estivesse bem distante dos portos asiáticos, além, é claro, de continuar a viagem contornando o Cabo da Boa Esperança, até chegar em Lisboa, onde uma comitiva do Governo Português junto com a assessoria de imprensa de Dirceu Pontes fazia os preparativos para a festejada recepção. Acontece que o navio percorreu uma distância muito maior do que era previsto, com todo aquele peso excessivo dos cerca de dez mil caixões. Ele naufragou nas águas de Madagascar, perto de uma cidadezinha portuária que nem existe mais. O comandante do navio chinês, o americano naturalizado coreano (mas com olhos e pele chineses) Arnold Lee, tava distraído demais com suas 117 acompanhantes e esqueceu de atirar os caixões ao mar, quando o navio começou a afundar, contam até hoje os nativos da ilha de Madagascar, era possível enxergar milhares de fantasmas chineses enrolados em lençóis brancos, saindo de dentro da água, seguindo todos na direção do seu país de origem. Diz a lenda que o fantasma de Arnold Lee passou a guiar a locomotiva, percorrendo o fundo do mar numa viagem que continua até hoje, ele e os fantasmas das suas 117 amantes. E contam ainda, mas isso é coisa que só se comenta lá pras bandas de Portugal, que depois desse dia Dirceu Pontes nunca mais cantou uma única frase.

3 comentários:

Anônimo disse...

Queridos prophanos
Vim retribuir a amável visita do "adestrador de lesmas" lá no blog da Alma e encontrei logo esta sugestiva crônica, bastante inventiva e curiosa. Este é um blog literário coletivo? Vocês não assinam individualmente os textos? Louvável desprendimento...
Desejo-lhes grande sucesso, a vocês, jovens talentosos. Um abraço e beijos da Lucia Welt.

Lúcia Welt disse...

Perdão, só agora notei que os textos são assinados, sim. É que estão num azulzinho mais rebaixado e eu tô ficando ceguinha de tanto olhar para a telinha (risos). Parabéns Paulo César pelo seu texto cativante. Agora vou lá visitar o meu visitante, o emérito adestrador de lesmas.
Lucia Welt

Subverso Livros disse...

Lucia, você é um barato.

Tenho uma meia-prima chamada Lucia...se tiver um tempo dá uma lida em LENDAS DE FAMÍLIA que é a história da mãe dela.

beijo.