sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O mundo é feito de drops.


(deixaria aqui uma definição do que imagino ser “drops”; para isso contei com a internet, o google, dicionários... nenhum deles me satisfez; qualquer dia elaboro essa definição e deixo na wikipedia (http://pt.wikipedia.org/); enquanto isso, espero que vocês entendam o que quero dizer com essa palavra; células, pedaços, partes integrantes de um mesmo todo)

O mundo são drops que, observados de longe ou sem atenção, não denunciam nenhuma espécie de relação uns com os outros.



Evelyn está calma. Lembra dos nomes de sua infância. Tenta lembrar os de todos que cruzaram seu caminho, mas não tem certeza. É quinta-feira, são quase dezenove horas. Os empregados da empresa se juntam a outros empregados de outras empresas e fazem a sua happy hour. Evelyn não. Ela prefere encostar a cabeça no vidro da janela do ônibus e observar o chão passando, enquanto lembra dos nomes de sua infância. Tenta recordar quando foi que perdeu cada um deles, quando foi que ficaram para trás. Espera adormecer enquanto tenta enumerar quantos passaram, mas não tem certeza. Não tem certeza sobre os nomes. O sono, sim, é certo.



Qual daqueles goles foi o decisivo naquela noite, ninguém sabe ao certo. O que se sabe, porque se viu, é que o Bruno cedeu. Baque. Uns teorizavam que o som alto da boate influenciava os ânimos e o estômago do rapaz. Outros afirmavam que era o excesso de absinto mesmo. O Bruno tentava enganar que estava bem, mas ninguém acreditava e o copo ficou escondido embaixo da mesa. Seria devolvido quando a criatura melhorasse. Todos riam e o Bruno ia pra pista. Todos riam e o Bruno ia pra pista mandar mais uma. Todos riam e o Bruno pedia pra mandar mais uma dança. Todos cansaram de rir e o Bruno melhorou com a dança. O copo voltou às mãos de seu proprietário. Começou, tem que terminar! Era mais que um lema entre eles, era uma obrigação moral. Evitava desperdícios. Os outros se sentiam menos bêbados olhando para o Bruno, e eles gostavam disso. O Bruno nem ligava e continuava mandando no absinto. A sensação de uns e do outro não valia de nada. Quando saíram, pareciam todos o mesmo tipo de verme, subjugados à luz e ao calor do sol de uma manhã de sexta-feira.



O prefeito moralista, pelo que me lembro, começou tímido. Deu continuidade às decisões de seu antecessor. Mas, se não me engano, foi por pouco tempo. Logo quis limpar as fachadas; as fachadas foram limpas ou multadas. Ele não apareceu quando os camelôs foram arrastados para fora de nosso pedaço de chão. Mas quis socar com os próprios punhos o manifestante solitário que atrapalhava a inauguração de mais uma pequena obra, a inauguração de mais um “cala a boca!”. “Vagabundo!”, ele gritou para um homem que apenas reclamava saúde. Depois, quando um avião atingiu um prédio comercial e centenas de pessoas morreram – tragédia já anunciada e esperada há tempos – o prefeito moralista deu um jeito de colocar a culpa no proprietário de uma das maiores boates de luxo do país. A boate foi fechada, o proprietário preso. E por aí vai...

Sei que é uma história ingênua. Que poderia ser revista centenas de vezes. Mas ela serve apenas como introdução. É que outro dia perguntaram ao prefeito moralista:

- Senhor Prefeito Moralista, todos sabem que o Senhor cultiva, zela e faz todo o possível para que a moral de nossa sociedade não se perca; para que sejamos um povo íntegro e sem nenhuma mácula de qualquer tipo de subversão ou sacrilégio à nossa valiosíssima... moral.
- Sim, claro.
- Por que, então, depois de tantos feitos e esforços em tal sentido, o Senhor ainda permite que aconteçam todos esses eventos que denigrem a imagem desta sociedade, onde nossos jovens bebem, fumam, usam drogas e praticam o amor livre?; e que acontecem, esses eventos, em estabelecimentos comerciais que, se fechados, a falta de suas receitas poderia muito bem ser superada pela implantação de algum novo imposto; e que todos sabemos muito bem quais são esses estabelecimentos dos quais falo, onde ficam e como funcionam?
- Caro Conselheiro, deixe os jovens quietos, onde estão. Acredite, se não estivessem bebendo e fumando e usando drogas e praticando o amor livre, com certeza estariam lutando contra nosso e qualquer governo. Tomemos conta de nossos filhos, sim?
- Ah, tá! Ainda não tinha me atentado dessa forma à questão.

Um comentário:

Alessandro disse...

Ah ah ah!

Boa, Mafroso! Boa! :-)

Acho que com mais um ou dois drops, daria um belo curta, saca?

Abraço!