sexta-feira, 31 de agosto de 2007

SMOKE ON THE WATER

Nos anos 80 eu costumava frequentar um bar lá no centro que ficava perto da Praça Ramos, o lugar era tranquilo, tinha uma jukebox antiga nos fundos que rolava um som legal na maioria das vezes e o melhor de tudo era que o tal bar vivia vazio. Eu sempre aparecia por lá nas noites de quinta, lembro de uma noite em particular, eu tava acompanhado de uma garota, uma estudante de psicologia que fazia uns trampos de estagiária nas Clínicas, era ela que descolava umas cartelas de Valium 5mg. Se não me engano era Sandra o seu nome, não me lembro direito e sempre confundo os nomes, talvez fosse Silvia ou Sonia, vai saber. O fato é que estávamos lá, na tranqüilidade daquele bar vazio, bem no centro da cidade, conversávamos de maneira agitada, abastecidos com uísque e outras substâncias ilícitas, na jukebox rolava Discharge, a minha banda preferida na época, tinha uma porção de discos punk naquela máquina, devo ter deixado uma quantia considerável de tudo que eu ganhava, comprando fichas e fazendo aquele bar valer a pena de verdade. Outros malucos sempre apareciam. De vez em quando colava um idiota, mas esses não ficavam por muito tempo. Nessa noite, porém, apareceu um sujeito que ficou sentado um tempo no balcão. Eu continuava conversando com a garota, o som do Discharge tinha acabado, de modo que ficamos um tempo em silêncio novamente. Virei um gole de uísque, e na hora em que fui ao banheiro ouvi quando começou a tocar Smoke On The Water do Deep Purple. Quando eu disse que tinha uns sons legais na máquina, esqueci de falar que também tinha umas velharias chatas, esse tipo de som cansado, que já tocou em tudo quando é rádio e programa de televisão, o tipo de som que eu odiava, de qualquer forma. Quando saí do banheiro, com aquele riff irritante soando por todo o bar, vi o cara lá, parado de frente para a máquina enfiando outras fichas dentro dela. Era um desses cabeludos com jaqueta de couro e tênis de cano alto.Sentei novamente na mesa e tentei continuar a conversa, acontece que naquela noite deve ter tocado Smoke on the Water umas vinte vezes seguidas, o cara não sossegava. Comecei a ficar puto com aquilo, lembro que a Sonia ou Silvia, tentou me acalmar, mas quando vi já tava em cima do maluco, puxei ele pelo cabelo, caiu de costas no chão, meti-lhe um chute na cara e taquei-lhe um copo na testa, rolou para o lado com as mãos tapando o rosto, continuei dando bicudas nele, meu coturno já tava todo melado, o maluco tinha sangue que não acabava mais, quando conseguiu se levantar apanhei uma cadeira e bati com força bem no meio das costas, o dono do bar, que chamávamos de Ceguinho, por causa dos óculos fundo de garrafa que usava, tentou me segurar e tudo, mas não teve jeito, saí correndo atrás dele, descendo em direção ao Teatro Municipal com uma garrafa de cerveja na mão, lá embaixo ele dobrou a esquerda, reparei que tinha sangue respingado por toda a calçada, desisti e voltei para o bar. Quando cheguei lá a Sandra já tinha pagado a conta, tava com os olhos cheios de lágrimas. Disse que eu era um monstro ou qualquer coisa assim. Foi embora sem nem se despedir. Fiquei feliz por ela ter pagado a conta. Pedi outra dose de uísque para o Ceguinho. Na Jukebox continuava tocando Deep Purple. Merda – pensei – É o preço que se tem de pagar. Depois da 30ª ou 40ª repetição, a máquina finalmente silenciou, já era quase dia outra vez. Fui para a jukebox, coloquei três fichas, pedi outra dose de uísque e essa foi a primeira vez que assisti o nascer do sol ao som de Black Flag.

11 comentários:

Alessandro disse...

A ética do malvadão. Eh eh eh!

Eu nunca fui assim, ao contrário. E gostava de Deep Purple. Não era cabeludo, mas jogava no time deles. Também nunca fui viciado em Smoke in the Water. Alguns hits são mesmo odiosos... eh eh eh!

Abraço, Paulinho!

Mhel disse...

Paulinho
Sempre que eu leio seus contos me dá vontade de acender um cigarro, ouvir um blues, tomar mais uma doce de whisky e cortar os pulsos...
Parabéns!

Povo, to com dificuldade pra fazer a diagramação do zine. Estou usando o page maker, dá pra fazer uns baratos bem legais, mas estou na dúvida quanto a formato, fontes, ordem do textos e por aí vai...
NÒIS SE PRESSIZA SINCONTRÁ!!!!

Alessandro disse...

Mhel, sexta-feira, no Gruta. Algo mais perfeito? :-)

Beijão!

Subverso Livros disse...

será que abre no feriado?

Alessandro disse...

Deabos! Tem isso, também! É feriado!

Mhel disse...

Vamos quinta! Vamos quinta! Vamos quinta!

bjos- Mhel
p.s.: Não conheço nenhuma das músicas citadas no texto.
p.s.2: Mas gosto de "smoke on the water", isto é, fumar no chuveiro.
p.s.3: O Nelson já fez isso de bater em alguém perto da praça ramos, mas foi porque o cara o chamou de menina...

Subverso Livros disse...

quintafeiraagora? fechado.
Mhel, só Smoke on the Water é nome de música. Discharge e Black Flag são nomes de bandas. e Nelson é nome de comunista.

Anônimo disse...

Prop(h)anidade intimada a comparecer ao churras coletivo na casa do Mafra, qualquer coisa liguem para ele quem tem o nº dele ou para mim quem tem meu nº, vai rolar na sexta (amanhã) a partir das 10 (da manhã) e até sabe quando!

Alessandro disse...

Carajo... simplesmente NINGU�M apareceu...

De boa, assim fica dif�cil...

Subverso Livros disse...

Essa sexta agora eu vou - certeza.

Anônimo disse...

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