terça-feira, 14 de agosto de 2007

IRVINGTON MASSACRE

Eu morava com a minha mãe em um prédio de cinco andares, perto da faculdade e de uma lanchonete, quero dizer, era do lado, tanto que da janela da sala onde morávamos era possível enxergar boa parte do campus e o estacionamento de umas lojas pequenas bem na frente. A primeira coisa que eu fiz foi ganhar a confiança do sindico do prédio, era um cara legal, e não demorou muito até que eu consegui as chaves do terraço com ele, tinha um quarto abandonado lá em cima, ninguém usava aquele espaço pra nada, o sindico tava cagando praquilo, então eu fiz uns reparos no local, coloquei uma fechadura na porta. Nessa época eu e a minha mãe andávamos brigando direto, eu tinha acabado de abandonar a faculdade no segundo ano de jornalismo, a minha irmã saíra de casa pouco antes de nos mudarmos para esse prédio, meu pai tava pouco se fodendo para a gente, eu não tinha amigos, perdia o meu tempo em um emprego medíocre em uma loja de materiais de construção, gostava de livros e filmes de guerra, tinha uma porção de enciclopédias sobre armas que eu guardava como se fosse um pequeno tesouro, também tinha uma Remington que não andava lá essas coisas, arrumei uma 249 emprestada de um tio da minha mãe, comprei uma Magnum novinha em folha.Então passei a estocar toda munição que eu conseguisse comprar para as armas que eu tinha, guardava o meu arsenal no quartinho do terraço, o sindico nunca enchia o meu saco, às vezes eu subia até lá com umas cervejas e ficava brincando de mirar nas pessoas lá embaixo. Foram seis meses ou mais, estocando munição, alguma coisa assim, gastava o meu dinheiro basicamente com isso, consegui juntar cerca de dois mil cartuchos.Aí chegou aquele final de semana no outono de 89, minha mãe tinha ido visitar a minha irmã que morava em outra cidade com um cara meio esquisito, uma espécie de yuppie depressivo, ela só voltaria na segunda ou na terça, de modo que eu dispunha de três ou quatro dias para por o meu plano em prática.Em uma dessas manhãs, passava um programa na televisão sobre uma tribo de índios da Amazônia, falava dos rituais antes da caça, as danças e as músicas, eles tinham um corte de cabelo selvagem, como se diz, raspavam a parte de cima, deixavam apenas dos lados, fui até o banheiro e fiz a mesma coisa, raspei o meu cabelo como a daquela tribo de índios e me preparei para a caça.Subi para o terraço na tarde de segunda-feira, minha mãe tinha ligado avisando que só viria no dia seguinte, eu não tava ligando muito pra isso, mas de qualquer forma tinha munição espalhada até pelo tapete da sala quando ela telefonou. Passava do meio dia quando eu dei o primeiro disparo, quero dizer, foram os primeiros disparos, seis tiros com a Remington direto no estacionamento da lanchonete que ficava bem em frente, tinha uma menina de uns 6 ou 7 anos entrando em um carro, foi a primeira que tombou, acertei a mãe, acho que era a mãe, logo em seguida, os outros tiros não acertaram nos alvos, houve uma correria danada, um tumulto, eu já tinha estudado todas as possibilidades, corri para o outro lado, dessa vez com a Magnum e disparei cerca de trinta vezes nos pedestres que passavam pela avenida principal, devo ter acertado uns quatro ou cinco, nisso comecei a escutar barulho de sirenes, carros de policia e ambulância por todos os lados, corri para o lado oposto, um que dava bem de frente para a saída do campus da universidade, peguei a 249, a munição tava toda lá, esperando, já tinham espalhando que havia um maluco atirando a esmo pela cidade, de modo que os estudantes saiam correndo, abaixados, mesmo assim de onde eu estava não era difícil acerta-los, essa foi a parte mais produtiva da minha tarde, acertei mais uns sete ou oito, tombaram todos, as ruas estavam lotadas de viaturas, havia pelo menos mais quatro prédios próximos ao que eu estava, todos mais ou menos da mesma altura, então eu fui para o outro lado, para o estacionamento das lojas, levei a Remington e a 249 comigo, não tinha ninguém, os policiais avisavam para que as pessoas não saíssem na rua, atirei nos vidros das lojas, nas viaturas, acertei dois policiais e então comecei a descarregar toda a munição que eu tinha nos vidros dos prédios próximos, não sei se acertei mais alguém, contabilizava 15 vitimas fatais quando me encontraram no terraço, tinha munição suficiente para os policiais usarem em outras pessoas, aqueles putos, quando saí as ruas estavam cheias de viaturas com as sirenes ligadas, minha mãe não veio conversar comigo desde então e acho que nem virá, minha irmã mandou uma carta na semana passada eu respondi dizendo para ela que as coisas estão melhores agora e perguntei se ela ainda vivia com aquele merda de yuppie do caralho, ainda não recebi a resposta.Algumas pessoas vêm conversar comigo às vezes, parece que vou pegar pena de morte mesmo, sei lá, meu advogado ta tentando mudar para a perpétua, grande merda. Já faz dois meses que estou aqui e essa é a segunda vez que me deixam escrever uma carta, a primeira foi aquela para a minha irmã. Espero que as coisas estejam bem por aí, agradeçam o meu tio pela 249 e diga a ele que outras seis ou sete pessoas também agradecem. De certa forma.

2 comentários:

Mhel disse...

Legal. Eu já fiz isso uma vez, mas foi no meu joguinho GTA. É divertido e estimulante.

Rafael Mafra disse...

GTA na cabeça! Dos outros!!!