quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Prontuário...


Olha! A bolha, que chamei de lar, está em chamas! Minha libido está em guerra civil, meu corpo foi dividido em várias facções e algumas bem radicais. Tenho olhos, ouvidos e glândulas suicidas.Não faço idéia do que tanto reivindicam, todos gritam ao mesmo tempo, está muito confuso. Questão de ordem, por favor!

Boca, o que te aflige? Engole suas queixas com essa cerveja, porque ele não quer mais voltar. Não culpe os hormônios pelas suas palavras, elas ferem e você sabe disso. Por onde andava, boca? Não responda.

Se eu tivesse asas, elas estariam quebradas. Porque mesmo sem tê-las, voei o mais alto que pude e meus braços finos não suportaram a pressão do ar. O sangue nas minhas unhas era das costas que arranhei pra amenizar a dor da queda.

Queridas células, tenho algo a dizer: eu quero me regenerar! Vamos captar recursos e, com o auxílio de todos, investir na reconstrução do meu caráter. Posso não apagar as cicatrizes dos meus erros, nem clarear os dentes que perdi. Posso remendar a corda do violão e esperar que ele toque um dia. Comprarei na loja de usados alguma inocência, um novo nome, um novo hímen, um pouco de confiança e novas palavras pra conquistar o mesmo amor. Aquele, e somente aquele, que se encaixa tão bem na minha sede.

As garrafas estão vazias e eu também. Conheci um louco que não acreditava em fígado. Pensava que o álcool era expulso do corpo pela urina, sem processo, sem lesão. Quando a tampa do caixão do meu último parente se fechar, eu vou crer num deus-fígado.

Ateu é quem não crê em deus ou quem não crê em nada? E quem não crê em mulher, em amor, como se chama?

Você chegou e deus ainda não existe, porque um pé ficou na porta. Eu estendo a mão e imploro que entre, que me perdoe por não crer em outro amor que não o meu.

Desculpe-me pela bagunça, não esperava visitas a essa hora da noite. Você foi embora tão depressa que não tive tempo de chorar, nem de lavar os lençóis.

Coloco uma música que canta as palavras que não sei dizer. Essa é a melodia que ofereço, e é só o que posso oferecer. Dança comigo e esquece nossos passos tortos. Meu corpo está em conflito, mas quando você chegar (se um dia você chegar) e instaurar a paz, espero produzir mais saliva do que lágrimas.

2 comentários:

Nelson Galvão disse...

A quem você pensa que engana?
Lágrimas de sapo-boi?
humm... Não há perdão para lençóis sujos!

Subverso Livros disse...

Nelson e Mhel, Márcia Goldsmith é uma opção.