sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A LUA ARTIFICIAL E OS BALDES FLUTUANTES

Aconteceu que depois de tanta poluição a lua virou uma circunferência preta de sujeira, pairando no céu de dia e escondendo-se sempre que o sol se punha. O prefeito de uma cidadezinha pacata teve a idéia de instalar um poste de cinqüenta metros de altura, lá no alto uma luz brilhava dentro de uma lâmpada de vidro branco imitando a lua nos tempos em que era limpa. Então os poetas e as crianças passaram a contemplar a lua de vidro todas as noites e não demorou muito, todas as pessoas dessa cidadezinha e mesmo pessoas vindas de cidades vizinhas, paravam maravilhadas a admirar aquela lua que na verdade não era lua, era luz de poste. Os mais velhos desdenhavam, lembrando de quando eram crianças, de quando puderam ver a lua de verdade, cercada de estrelas tão brilhantes quanto ela. O sucesso era tanto, que logo o prefeito da tal cidadezinha mandou fazer uma cerca em volta da falsa lua e passou a cobrar ingresso de todos aqueles que queriam vê-la. Um anúncio na televisão colocou a cidade em polvorosa, milhares de ônibus lotados de turistas loucos para ver a lua, chegavam sem parar na cidade. Foi preciso construir hotéis e restaurantes, o comércio cresceu de forma desordenada, bem como a industria. De uma hora para outra a cidadezinha se transformou em uma imensa metrópole, tudo por causa da luz do poste que imitava a lua. E então todas as outras cidades, que antes eram cidades maiores agora não passavam de meras cidadezinhas. A cidade da lua, como ficou conhecida, transformara-se numa metrópole rica e influente, tanto que seus políticos agora dirigiam todo o país. Foi baixado um decreto proibindo a construção de novas luas artificiais, e tão logo algum prefeito de alguma outra cidade ameaçava erguer sua própria lua, lá vinha a metrópole com os seus soldados e tomava-lhe o cargo. Até o dia em que dois astronautas dissidentes do partido do governo, munidos de esfregões e baldes com água, foram limpar toda a sujeira que se acumulara na lua verdadeira e que agora não passava de um buraco negro no céu cinzento. Eles começaram a limpeza as sete da manhã, trabalharam duro durante todo o dia e conforme iam limpando a lua, as pessoas notavam que aquela mancha negra, aquela circunferência de sujeira estava desaparecendo do céu. A noite chegou e a lua verdadeira brilhou majestosa no céu de todo o país novamente. As pessoas pararam anestesiadas por tamanha beleza. Tanto nas ruas, como no rádio e na televisão não se falava em outra coisa. Os dois astronautas abriram latas de cerveja e comemoraram a limpeza da lua, encostados em uma pilha de baldes plásticos vazios.A metrópole então, mandou um míssil que detonou a lua numa explosão tão barulhenta que deixou um terço das pessoas surdas por cinco dias e iluminou o céu por três noites. E assim, a metrópole pode continuar com sua lua artificial, e os ônibus lotados de turistas continuam chegando aos montes, até hoje. E embora não tenham mais lua, nem céu azul, nem estrelas. Há quem afirme ser possível enxergar, algumas vezes, uns minúsculos pontinhos brilhantes vagando no céu.
Como baldes flutuantes.

2 comentários:

Rafael Mafra disse...

Ei, Paulo!
Gostei pra caramba.
Mas, neste momento, não consigo encontrar palavras. É que eu bebi já e meu repertório caiu pra umas quatrocentas palvras, mais ou menos, contando com artigos e advérbios. Deixei os adjetivos de lado porque, geralmente, eles não ajudam nada a essas horas.
De qualquer forma, abraço!

Mhel disse...

Ótimo, Paulinho! Vou contar essa história pro Klaus. Espero que ele não entenda nada de geografia, nem de sistema solar.
Beijo