quarta-feira, 12 de setembro de 2007

OS TELHADOS MAIS ALTOS

A casa do S. era um antro, todos os malucos do bairro ali se reuniam para puxar fumo e ficar de bobeira curtindo um som. Também pudera, a casa em questão ficava nos fundos de uma ruazinha mal iluminada e sem saída, formada por dois cômodos minúsculos e um banheiro fétido, cuja privada vivia entupida, era lá que as coisas aconteciam. P. subiu a escadinha lateral capengando, trazia consigo uma caixa com doze garrafas de cerveja. S. tava lá em cima cortando as unhas dos pés, o som ligado no último volume – Let it Bleed (Rolling Stones). S. olhou para P. e murmurou alguma coisa, então P. foi até a geladeira e colocou as cervejas lá dentro. M. chegou pouco depois com um gato persa debaixo do braço e umas revistas de motocicleta. S. abaixou o volume do rádio. P. apanhou três cervejas do congelador. Conversavam sobre música e mulheres. Estavam no primeiro quarto, onde as paredes tinham sido pichadas com nomes de bandas de rock dos anos 70, no segundo cômodo, um colchão jogado num canto e uma bateria caindo aos pedaços no outro, pontas de maconha e caixas de ovos vazias espalhadas. O disco dos Stones tinha acabado. S. levantou e remexeu os discos que estavam empilhados, Billie Holiday, Cartola, Cólera, Kraftwerk.....o gato persa de M. passeava perto da janela – Gatos são bichos noturnos – M. falou enquanto apanhava outras cervejas. – Quase morcegos. Agora rolava Cramps. S. aumentou novamente o volume do rádio. R. apareceu com um baseado. P. folheava um livro sobre Sid Vicious. Botaram o gato para fora, para que ele também curtisse um pouco daquela noite e o quartinho impregnou-se de fumaça enquanto Poison Ivy arrebentava as cordas da guitarra. Era um pirata, gravado ao vivo na Finlândia em 1982. M. saiu chapado lá pra fora procurando pelo gato. No quarto dos fundos R. tocava bateria com um cabide em cada mão, tentava acompanhar a música. P. continuava folheando o livro do Sid Vicious. – Caralho, olha só isso. Ele falava. – Porra. – Cacete. E coisas assim. O lado A do disco acabou. R. veio buscar mais cerveja. M. voltou abraçado ao gato. Ouviram a vizinha trepando, ela gemia e gritava. A cerveja tinha acabado. P. deixou o livro de lado e enrolou outro baseado. A vizinha parecia fora de controle. M. ficou de pau duro, tirou toda a roupa e começou a socar uma punheta. S. virou de ponta cabeça. Todos estavam rindo alto agora. Era possível escutar o barulho da cama rangendo. R. foi para o banheiro com os seus brinquedinhos particulares. S. continuava de ponta cabeça, o sangue tinha descido todo, tava vermelho feito pimentão. Sorria e revirara os olhos. M. se masturbava e gritava a cada urro da vizinha. P. remexeu os discos, colocou um Young Marble Giants para tocar. Aumentou o volume e acendeu o baseado. Todos os outros estavam meio loucos. Meio ausentes. Então o gato pulou a janela outra vez à procura de entretenimento nos telhados mais altos da cidade.

Um comentário:

Alessandro disse...

Eu gosto de telhados... :-)

Abraço, Paulinho!