quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

LADY GLADIATOR E A LUTA DO SÉCULO - PRIMEIRA PARTE

- Devolvam a minha bílis, seus escrotos – ela falou, com aquele tom gutural característico de quem não estava brincando. E ela de fato falava muito sério, como quem queria de qualquer maneira a sua bílis de volta. Encostou os dois ladrões com roupas de palhaço na parede, segurava-os agora pelo pescoço. Estavam num corredor vazio do hospital bem ao lado da cozinha. Dois policiais passaram correndo, empurrando uma maca com um médico visivelmente emocionado depois de ter assistido o ultimo capitulo da novela, portanto, sem condições mínimas de realizar o parto do Incrível Bebê de Duas Cabeças. Passaram correndo, empurrando aquela maca enferrujada, cujas rodinhas faziam um barulho chato que se espalhava por todo o prédio. A paciente do quarto 172 abriu a porta do quarto e botou a cabeça pra fora: - Parem com esse barulho dos infernos, seus fascistas de merda – bateu a porta com força. Essa era meio doida. Viciada em programas de auditório e com sérios problemas oculares, teve a televisão trocada por um aquário e já faziam dois anos que não notara a diferença.

VOLTEMOS NOSSA ATENÇÃO PARA LADY GLADIATOR E OS DOIS LADRÕES FANTASIADOS DE PALHAÇOS:

- Devolvam a minha bílis, seus escrotos – ela repetia enquanto apertava-os contra a parede. Lady Gladiator era tricampeã intercontinental de vale-tudo-mesmo, uma variação um pouco mais radical do vale-tudo, pois no vale-tudo-mesmo os lutadores podiam portar facas, espadas, machados, martelos, serrotes, armas de fogo e granada. As lutas de Lady Gladiator eram televisionadas pelo canal 8 e quando atingiam (e sempre atingiam) 50 pontos de audiência, então Lady Gladiator parava de lutar, largava sua oponente desfalecida em algum lugar do estúdio, dirigia-se para uma das câmeras que focava o seu rosto e sua fala vendendo um novo tipo de leite ou protetor solar. - Devolvam a minha bílis – ela falou pela nonagésima vez e um dos palhaços vomitou a bílis no corredor do hospital enquanto o outro ajeitava novamente seus fones de ouvido.

A SALA DE PARTOS E A TRASMISSÃO AO VIVO DO NASCIMENTO DO BEBÊ DE DUAS CABEÇAS:

A repórter olhava atentamente para um grupo de médicos e enfermeiros reunidos em volta de uma mesa de cirurgia. Três câmeras do canal 15 posicionavam-se logo atrás deles tentando obter as melhores imagens possíveis – Boa noite – ela disse, assim que as luzes vermelhas se apagaram – Bem vindos ao show. E então uma música introdutória deu inicio ao programa de maior audiência do canal 15. A introdução era feita com colagens de mulheres seminuas de papelão dentro de um lago artificialmente criado num dos estúdios da Amalgama, uma produtora de filmes pornô caseiros, famosa pelos atores incomuns que usava em suas filmagens. Todas as câmeras filmavam os médicos e enfermeiros, vestidos com roupas de diferentes tons verdes. A repórter estava sentada em uma cadeira de rodas, brincava com um feto no instante exato em que uma luz azul acendeu no fundo, pulou de imediato, atirando o feto para longe, a luz azul era um sinal de que o índice de audiência não estava indo muito bem, então as câmeras mudaram de foco, todos as três agora filmavam a repórter que tirou um chicote de dentro da bolsa e segurando-o com a boca, lentamente começou a desabotoar a camisa branca com o logotipo do canal 15.

4 comentários:

Rafael Mafra disse...

Então quer dizer que estás a dar umas de escritor agora? Essa coisa já era. Agora o que tá pegando é vender artesanato hippie de arame e durepoxi pela internet, seu paspalho!
Saudades! Você não toma mais cerveja?

Alessandro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alessandro disse...

Paulinho, estás abstêmio de cerveja, igual a mim? Nãooooooooo... não pode ser!

Alguém precisa salvar os Prophanos!

Brincadeirinha. :-)

Ó, nesta semana com todo o tempo ocupado, já. Mas bem que semana que vem podíamos todos nos reunir no território profano do Gruta Bar e fazer um brinde à poesia, outro à prosa e um terceiro a nós mesmos, certo?

Pra fechar, tenho um outro texto pra postar, mas hoje estou com preguiça. Amanhã vai, vale?

Rafael Mafra disse...

Posso?