terça-feira, 16 de outubro de 2007

Estas eram pra ser palavras ficcionais que não tinham nada a ver com isso. Qualquer semelhança com fatos reais terá sido mera consequência do que poucas horas de sono semanais e alguma ceveja podem causar.



Morreram de sede os pobres animais, coitados. E o pior é que ainda ficaram tristes nos últimos momentos, imaginando que alguém sentiria alguma falta. Esperavam algumas últimas palavras, alguma compaixão, saudades ou cremação, se fosse possível. Eram poetas, mas suas últimas palavras não tinham sentido, nada de significação. Nem eles mesmos entendiam, apenas carregavam o crachá e se desculpavam dizendo que sempre tinha alguma coisa fodendo a vida. Morreram de sede os pobres animais porque não fodiam a vida, ou fodiam pouco, não o bastante.

É de antes desse tempo que se sabe que tal morte se reservava apenas a engenheiros, doutores, cristãos e suas variantes (padres não), senhores e senhoras e medrosos em geral, quase todo o resto.

Passaram a mortos-vivos, não chegarão à imortalidade. Não aquela das letras, mas a que se deve procurar a cada momento. Aquela que se pode encontrar em qualquer instante no qual os pulmões, ou apenas um, se necessário, continuam respirando e enquanto alguma idéia esteja funcionando.

Poderiam morrer de sede de qualquer outra forma, os poetas: o estoque de cerveja acabando, por exemplo. Mas nem isso. Continuam lá, as garrafas, esperando. E continuam lá, eles, esperando.

Mas também, tanto faz. Sendo o que são, seria mais natural que não fossem plural, que estivesse cada um no seu canto. Morrendo de sede juntos, são ainda alguma aberração que valha.

Bem, ao menos não nasceram mortos...

2 comentários:

Mhel disse...

Poeta não morre, vira purpurina.
Bons textos aqui, Mafrete. Precisamos fazer o sarau, com ou sem zine.
Beijos

Unknown disse...

Que DUCARALHO!!!

Sem muita intimidade j� me intrometo e digo que no proximo sarau quero ler esse texto...com ou sem zine.
Beijos