sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

LADY GLADIATOR E A LUTA DO SÉCULO - SEGUNDA PARTE

LADY GLADIATOR AGAIN:

Lady Gladiator tinha largado os palhaços que correram até o final do corredor e então dobraram à direita – Essa não é a minha bílis, mas deve servir – ela disse enquanto revirava o vômito. Olhou para o relógio da recepção que marcava dez e quinze, a recepcionista estava de costas, paralisada com uma lixa de unha na mão olhando para a televisão enquanto o apresentador do canal 8 anunciava a luta de Lady Gladiator para logo mais: - Senhores e senhores, não percam a luta do século entre Lady Gladiator e Aspargatas, daqui a pouco vai começar o maior espetáculo transmitido ao vivo exclusivamente pelo nosso canal, o canal campeão, se eu fosse você não saía daí dessa sua poltrona suja pra nada e enquanto isso fiquem com um pouco do sensacional humor de Johnny B. God – Lady Gladiator meteu aquele monte de vômito em uma sacola plástica e saiu correndo pela mesma porta onde os dois ladrões vestidos de palhaço tinham saído segundos antes. Esses estavam agora parados num ponto de táxi e ela também parou por lá esperando, antes que qualquer carro se aproximasse, um dos palhaços, o de fones de ouvido, tirou de dentro do paletó uma torta enorme e jogou-a na cara do outro que ficou parado enquanto as câmeras do canal 29 filmavam tudo – Merda – Lady Gladiator falou e saiu correndo outra vez para a rua dos fundos do hospital antes que a rede de televisão concorrente pudesse captar uma imagem sua.

DE VOLTA PARA A SALA DE PARTO:

Depois de tirar toda a roupa e ver acesa a luz verde que indicava mais de 40 pontos no índice de audiência, a repórter agora simulava um coito com o feto que ela havia atirado contra a parede, minutos antes. Todas as câmeras estavam posicionadas para que as imagens geradas fossem as melhores possíveis. Então um carinha estranho, de paletó amarelo e gravata mostarda, entrou na sala aos berros: – Para tudo – ele falou, desconectando os fios das tomadas, então a repórter vestiu novamente sua roupa enquanto os médicos e enfermeiros continuavam trabalhando no parto lá atrás, uniram-se num semi-círculo, os três câmeras, dois iluminadores, a repórter e o diretor baixinho, ele então explicou para sua equipe como conquistar os tão desejados 60 pontos da audiência. Foram dez longos minutos de palestra enquanto as câmeras desligadas deixavam que o canal 15 transmitisse a queda de um helicóptero do canal 29.

DO LADO DE FORA DO HOSPITAL:

Aos dois palhaços, juntou-se também uma trupe inteira de malabaristas, contorcionistas e jogadores de futebol que faziam embaixadas com a língua, então o diretor chamou um dos palhaços de canto: – Conseguiu a bílis? – ele perguntou, olhando para os lados, certificando-se de que ninguém acompanhava a conversa dos dois. O palhaço então enfiou o dedo na garganta e vomitou no meio da rua, enquanto os guardas de trânsito desviavam os carros pela rua de trás. – Ta aí no meio dessa bagunça – o palhaço falou quando botou para fora tudo o que tinha engolido. O diretor ficou de joelhos e começou a revirar no vômito, gargalhou como se estivesse encenando, e talvez estivesse, quando enfim encontrou a bílis de Lady Gladiator no meio daquele monte de macarrão empastado.

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