sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ele sonhava

Um breve conto com sabor de poesia, ou uma breve poesia com cara de prosa. De guitarras imaginárias.


Ele Sonhava

Pegou sua guitarra e fez o som de sua vida.


Pegou a guitarra e fez o som. E foi agressivo, ao modo de seus ídolos de capa de revista.

Foi o tal.

Num palco de brinquedo para um público de sonho. Lotou estádios, vendeu discos. Os outros meninos, que vieram depois, copiaram-no.

E repassavam os mp3 entre si.


Depois, era ele mesmo nas capas de revista e nos sites descolados.

O tempo passou e ele virou lenda. Mas não sabia um fá...


Ele sonhava!


Beijos e abraços prophanos!

Baseado neste som aqui:

Megadeth - Train of Consequences


Nossa, fazia tempo que não escutava isso... eh eh eh!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Fechando a Augusta. (relato instantâneo)


Estou aqui ainda.

Agora pouco, estava ali, no Charm, tomando uma cerveja, esperando o comércio abrir mais pra baixo. Ouvia "Master of Puppets" do Metallica. Sossegado, aenas deixando o tempo passar.

De repente veio uma, duas, três, umas quinze viaturas. Da PM, do GOE, e de outros lances que não reconheci. Achei estranho, tudo bem. Mas depois vieram mais outras quinze. Depois dez. Depois dez. E mais dez. Chutando baixo, acho que foram umas setenta viaturas descendo a Agusta. Fiquei até com receio de descer, mas desci.

Na descida apareciam algumas viaturas subindo, que logo faziam a volta e desciam. Vai lá saber...

Mais pra baixo, todas elas encostadas nos puteiros que todos já conhecem ou já ouviram falar. Os polícias pra fora do carro. Uns rindo, outros com caras de sérios.

Nunca vi tanta polícia junta no mesmo lugar! Na mesma rua. Muito menos na Augusta.

Tanto faz. Ainda estão lá. Não importa. Acho que consigo chegar ao Gruta.

Queria estar apto a desenvolver minha escrita de uma forma melhor, agora. Mas fica assim.

Tenho três hipóteses:

1: A Augusta apareceu no Jornal Nacional e tinha um filho ou uma filha de algum importante político brasileiro; vieram todos os milicas querendo aparecer na televisão, igual naquele caso da Daslú.

2: Algum chinês do cacete estava faturando bilhões contrabandeando e vendendo artigos ilegais (é claro, se é contrabando...) por aqui. (Mas acho que essa é a hipótese menos verossímel...)

3: Os caras estão fazendo a festa de final de ano, apenas. E decidiram curtir a noite nos botecos e puteiros da dita cuja Augusta, só isso. O alarde é por preconceito.

Bom, queria que estivessem aqui. É até engraçado! Os caras só desceram e encostaram nos puteiros, mais nada!

É só isso.

O HOMEM QUE FOI PARA A GUERRA

Acordou as 7 em ponto e como fazia todos os dias, primeiro foi até o banheiro, lavou o rosto, refez a barba que não tinha ficado totalmente aparada na noite anterior, andava crescendo rápido e era melhor se precaver. Voltou para o quarto, vestiu a farda, engraxou e calçou o coturno reluzente com as marcas de outras batalhas. E quantas batalhas teriam sido? Não conseguia se lembrar de todas. Certamente centenas. Talvez muito mais. A cabeça rodava um pouco. Foi até o banheiro e cheirou duas carreiras de cocaína, cocaína da boa, quase pura e foram duas carreiras bem servidas. Foi até o armário. Apanhou o fuzil, conferiu a munição no carregador, vinte ao todo. Mexeu num estojinho de madeira, pegou mais, uma porção, duas mãos cheias, meteu tudo no bolso lateral da calça. Depois conferiu a pistola, tudo certo com ela também. Carregadíssima. Ah, esses bastardos. Esses filhos da puta. Hoje ele não tava pra brincadeiras. E talvez também por isso, desceu até a cozinha e apanhou o velho taco de beisebol que ficava debaixo da mesa da sala de estar, fazia tempo que ele não usava, e sua esposa vivia falando sobre a inutilidade daquele troço, entretanto, ele pensou, seria útil, sobretudo com os moleques. Ah, esses moleques malditos. Bateria em suas cabeças bestas como se fossem bolas de... de? de - de beisebol....isso, bolas de beisebol, bateria naquelas cabeças de merda como se fossem umas porcarias de bolas de beisebol. Saiu.Lá fora o dia era idêntico ao anterior, a mesma casa de bosta parcelada e quase quitada, a mesma vizinhança de bosta no mesmo bairro de bosta da mesma cidade de bosta e assim consecutivamente, seguindo num ciclo quase infinito, por caminhos repletos de inimigos à sua espreita, todos esperando com seus fuzis e suas idéias de morte, vingança e violência. Queria esmagar todos, um por um. Acendeu um cigarro porque contos em que o personagem principal não acende um cigarro não tem lá muita graça, muito charme, talvez. Seguiu em frente, até a garagem. Entrou no tanque. Conferiu os botões, tudo certo – então deu a partida e as imensas portas de ferro com alarme-eletro-choque abriram-se num silêncio que em nada parecia com o seu barulho interior. Foi pela mesma rua de bosta de sempre. Com seu tanque imenso esmagando carros, pessoas e carrinhos de bebês. Esmagou homens entrincheirados, espiões, pára-quedistas que caiam a sua frente. Esmagou meninas em roda, cachorros, outros tanques, carrinhos de cachorro quente e três freiras que tentavam atravessar a avenida.Chegou no seu destino ileso. Não fora preciso disparar um só tiro de fuzil ou de pistola. Nenhum tiro com o seu tanque de guerra, exceto dois, em dois filhos da puta que tentaram atravessar a rua no momento exato em que ele ia passando. Filhos da puta. Filhos da puta. Filhos da puta. Estavam agora esmagados feitos pombos no asfalto. Grande merda. Fim da viagem.Novamente conferiu os botões. Desligou o tanque. Deu uma conferida para ver como estavam as coisas lá fora. Aparentemente tudo tranqüilo. Apanhou novamente o fuzil e o taco de beisebol. A pistola já estava junto ao corpo. Correu abaixado, escondendo-se atrás de um muro em frangalhos. As 7:45 deu aquele mesmo sorriso de criança para o porteiro sem dentes. O porteiro não era um inimigo. Apertou o botão do elevador e quando entrou apertou outro botão. Até o décimo sexto andar, no escritório de arquitetura e urbanismo, onde trabalhava. Pensou no longo dia que teria pela frente, outras batalhas, e então sua cabeça rodou novamente.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

No contenido

É, pessoal... o cotidiano, este cotidiano... pra quem será?



No Contenido

temor de deixar de ser quem é
a aproximação do lugar comum
do deixar-se levar pela mão
a armadilha pronta
quando cessa a última força


a última?

não, não permitirá

há muitas cores para apenas um pacote de 100 gramas
sons demais para somente um litro
e sensações que não devem escoar pia abaixo

Ufa... fazia tempo, não?

Bom, logo voltarei com mais! Beijos e abraços prophanos!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O mundo é feito de drops.


(deixaria aqui uma definição do que imagino ser “drops”; para isso contei com a internet, o google, dicionários... nenhum deles me satisfez; qualquer dia elaboro essa definição e deixo na wikipedia (http://pt.wikipedia.org/); enquanto isso, espero que vocês entendam o que quero dizer com essa palavra; células, pedaços, partes integrantes de um mesmo todo)

O mundo são drops que, observados de longe ou sem atenção, não denunciam nenhuma espécie de relação uns com os outros.



Evelyn está calma. Lembra dos nomes de sua infância. Tenta lembrar os de todos que cruzaram seu caminho, mas não tem certeza. É quinta-feira, são quase dezenove horas. Os empregados da empresa se juntam a outros empregados de outras empresas e fazem a sua happy hour. Evelyn não. Ela prefere encostar a cabeça no vidro da janela do ônibus e observar o chão passando, enquanto lembra dos nomes de sua infância. Tenta recordar quando foi que perdeu cada um deles, quando foi que ficaram para trás. Espera adormecer enquanto tenta enumerar quantos passaram, mas não tem certeza. Não tem certeza sobre os nomes. O sono, sim, é certo.



Qual daqueles goles foi o decisivo naquela noite, ninguém sabe ao certo. O que se sabe, porque se viu, é que o Bruno cedeu. Baque. Uns teorizavam que o som alto da boate influenciava os ânimos e o estômago do rapaz. Outros afirmavam que era o excesso de absinto mesmo. O Bruno tentava enganar que estava bem, mas ninguém acreditava e o copo ficou escondido embaixo da mesa. Seria devolvido quando a criatura melhorasse. Todos riam e o Bruno ia pra pista. Todos riam e o Bruno ia pra pista mandar mais uma. Todos riam e o Bruno pedia pra mandar mais uma dança. Todos cansaram de rir e o Bruno melhorou com a dança. O copo voltou às mãos de seu proprietário. Começou, tem que terminar! Era mais que um lema entre eles, era uma obrigação moral. Evitava desperdícios. Os outros se sentiam menos bêbados olhando para o Bruno, e eles gostavam disso. O Bruno nem ligava e continuava mandando no absinto. A sensação de uns e do outro não valia de nada. Quando saíram, pareciam todos o mesmo tipo de verme, subjugados à luz e ao calor do sol de uma manhã de sexta-feira.



O prefeito moralista, pelo que me lembro, começou tímido. Deu continuidade às decisões de seu antecessor. Mas, se não me engano, foi por pouco tempo. Logo quis limpar as fachadas; as fachadas foram limpas ou multadas. Ele não apareceu quando os camelôs foram arrastados para fora de nosso pedaço de chão. Mas quis socar com os próprios punhos o manifestante solitário que atrapalhava a inauguração de mais uma pequena obra, a inauguração de mais um “cala a boca!”. “Vagabundo!”, ele gritou para um homem que apenas reclamava saúde. Depois, quando um avião atingiu um prédio comercial e centenas de pessoas morreram – tragédia já anunciada e esperada há tempos – o prefeito moralista deu um jeito de colocar a culpa no proprietário de uma das maiores boates de luxo do país. A boate foi fechada, o proprietário preso. E por aí vai...

Sei que é uma história ingênua. Que poderia ser revista centenas de vezes. Mas ela serve apenas como introdução. É que outro dia perguntaram ao prefeito moralista:

- Senhor Prefeito Moralista, todos sabem que o Senhor cultiva, zela e faz todo o possível para que a moral de nossa sociedade não se perca; para que sejamos um povo íntegro e sem nenhuma mácula de qualquer tipo de subversão ou sacrilégio à nossa valiosíssima... moral.
- Sim, claro.
- Por que, então, depois de tantos feitos e esforços em tal sentido, o Senhor ainda permite que aconteçam todos esses eventos que denigrem a imagem desta sociedade, onde nossos jovens bebem, fumam, usam drogas e praticam o amor livre?; e que acontecem, esses eventos, em estabelecimentos comerciais que, se fechados, a falta de suas receitas poderia muito bem ser superada pela implantação de algum novo imposto; e que todos sabemos muito bem quais são esses estabelecimentos dos quais falo, onde ficam e como funcionam?
- Caro Conselheiro, deixe os jovens quietos, onde estão. Acredite, se não estivessem bebendo e fumando e usando drogas e praticando o amor livre, com certeza estariam lutando contra nosso e qualquer governo. Tomemos conta de nossos filhos, sim?
- Ah, tá! Ainda não tinha me atentado dessa forma à questão.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A LENDA DA KOMBI BRANCA

Na manhã do dia 2 de dezembro de 1969, uma Kombi branca, com placa do Tenesse, lotada de hippies chapados de maconha seguia pela Route 66, rumo a Altamont, na Califórnia, onde os Stones se apresentariam quatro dias depois. Em determinado ponto do caminho, porém, pegaram uma estrada transversal e seguiram em direção ao sul e foram parar no estado do Arizona. Ninguém sabe se por distração ou por chapação, ou pelas duas coisas juntas. Acontece que nenhum dos ocupantes do veículo deu conta do erro e quando viram estavam na beira do Grand Canyon. Pararam de dedilhar suas canções naquelas guitarras desafinadas e desceram aturdidos para ver o que era aquilo. As meninas, quatro ao todo, com flores no cabelo, deram as mãos e começaram a cantar um antigo poema indígena, um dos hippies, que por sinal era bem parecido com um índio apache, acendeu outro cigarro de maconha e chaparam todos enquanto o sol descia por detrás daquelas imensas paredes de Canyons.- Então Altamont é um Canyon – um deles falou depois.
- Sóóóóóóó......e fomos os primeiros à chegar – outro comentou.
- Passa a bola – alguém disse.
- Saca só o sol.
- Maneiro.
- Nem os Stones chegaram ainda.
E seguiram nessa conversa, por horas a fio. De noite, fizeram uma fogueira ao lado da Kombi e continuaram cantando suas canções naquelas guitarras desafinadas – SE VOCÊ ESTIVER INDO PARA SÃO FRANCISCO, DEIXE-ME COLOCAR ALGUMAS FLORES NO SEU CABELO – e esse tipo de coisa. Volta e meia, as meninas faziam uma nova roda e então cantavam uma canção folclórica qualquer.
- Vamos colher umas flores – uma delas propôs.
- Vamos tomar um banho naquele rio – a outra apontou para o precipício.
- Deve ter uma cachoeira em algum lugar por aqui.
- Passa a bola.
- Cadê os Stones?
- Ei, cadê todo mundo?
Dizem que os hippies continuam naquele canto desértico do Arizona até hoje, esperando pela apresentação dos Stones. Há quem afirme ter-los visto no Google Earth, mas isso é coisa difícil de acreditar. O mais provável é que naquele lugar tenha surgido uma comunidade alternativa vegetariana anarquista, vai saber. Ninguém sabe também como essa lenda surgiu, se algum dos ocupantes da Kombi abandonou o deserto, cansado de esperar tanto tempo pelos Stones ou se a estória não passa de invenção. O fato é que em quase todo o sul dos Estados Unidos corre a lenda de que se uma Kombi branca lotada de hippies chapados de maconha cruzar o seu caminho, não importa o dia ou a hora – você estará perdido ou eles estarão perdidos ou as duas coisas juntas. Quem é que vai saber?

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Complexo




Os dois entraram.
Se encontraram numa festa, num bar.
Ela já estava bêbada.
Ele ainda estava bêbado.

- Nossa! Que apê bacana você mora!
- É alugado.
- Mas é bacana!
- Pois é.

Ela explorava todo o apartamento.








- Nossa! Tem até bidê!
- Está quebrado.
- Ah! Eu mandaria arrumar!
- Eu não preciso disso.
- Ah! mas mesmo assim. Vai que você encontra alguém e traz pra cá, igual hoje...

Ele não precisava daquilo. Ela sentou-se na mesa da cozinha, era pequena. Acendeu um cigarro.

- Hoje é feriado, não é?
- Hoje é domingo.
- Mas mesmo assim, é feriado. Do que que é mesmo, hein? E hoje não é domingo, é sábado.
- Já é domingo.
- Ah! Eu só considero que o dia passou depois que eu durmo.

Ele não disse nada, não precisava daquilo. Foi até a geladeira e trouxe uma garrafa de cerveja até a pia.

- Cuidado com essa faca! Você não tem um abridor?
- Tenho essa faca.
- Você perdeu o abridor?
- Tenho essa faca.
- Cuidado!

Ele não precisava daquilo.

- Vou até o bar. Não tem cerveja.
- Como não tem? Você acabou de abrir uma!
- Pois, é. Não tem. Já volto. Não mexe em nada.
- Se quiser pode ir com o meu carro!

Ele foi até a sala, pegou as chaves do carro na mesinha e tentou abrir a porta com elas.

- Pegou as chaves do carro?

Ele não ouvia. Não precisava daquilo. Voltou até a mesinha, jogou as chaves do carro e pegou as da porta.

- Não demora!
- Não mexe em nada.
- Tá bom, tá bom! Já sei!

Ele chamou o elevador, uma eternidade, mas ele gostava do vento frio que a porta soprava pela janelinha. Não conseguia completar nenhum raciocínio. Não sabia o que era bom ou mal pra sua vida. Sabia apenas do que era desnecessário e do que não era.


Não ficava perto o bar no qual ele tinha uma conta pendurada, mas um carro não era necessário. Era um bairro escuro, quase feio. Nas madrugadas pequenos botecos ficavam acesos durante o caminho e, em volta deles, como mariposas, homens feios e mal encarados encaravam feio qualquer homem que passasse. Queriam preservar seu território. Olhavam como quem olha uma barata no canto da cozinha, dando um tempo pra ela se calar e se esconder. Se demora muito ou não se cala, eles esmagam.

“Fiado de novo?”, gritou o dono do bar, reclamando.

- Fiado não. Tem minha conta aí, você não sabe?
- É claro que sei! Eu que fui o luco que abri essa conta pra você!
- Não se preocupa, dia cinco está chegando.
- Hoje é dia vinte e um!
- Está chegando, a cada segundo.
- Vai, filósofo! Vou aliviar pra você porque você paga em dia. Se fosse o corno do...
- Puta, cara, não quero saber de ninguém.
- Ô, calma aí! Vai o de sempre?
- Quatro.
- Só quatro?
- Já bebi hoje.
- Saindo quatro então.
- Valeu. Até dia cinco.
- Até amanhã!

No caminho de volta, os mesmos caras mal encarados. Existia também por ali uma loira. Grande, bonita, gostosa, um pouco acabada pela vida, mas sedutora. Ele sabia que não era uma puta. Outra noite tinha visto um cara ser espancado por outros três. O cara tinha feito uma proposta de cento e cinqüenta contos. Levou porrada. Uma puta naquela área não valia nem dez. A loira não era puta. Chegou a pensar que talvez fosse mulher de algum traficante. Mas mulher de traficante não fica na boca, e aquilo ali era quase a garganta do negócio. De qualquer forma, ele nunca ligou para as cantadas que ela passava.

- E aí, filósofo! Fiquei sabendo que é esse o seu apelido. E hoje, tá sossegado? Vai recusar minha proposta outra vez? Por que você nunca fala comigo? Responde pra mim só desta vez!

Ele parou. Não precisava daquilo. Voltou primeiro a cabeça, depois o resto do corpo, olhando fixo nos olhos. Chegou a sete centímetros da loira e respondeu.

- Barata.

A loira não entendeu. Ninguém que estava por perto se divertindo com a situação entendeu. Não apareceram três caras para socá-lo. Ele seguiu seu caminho. Não sabia o que era bom ou mal pra sua vida. Sabia apenas o que era desnecessário e o que não era. Não precisava daquilo. Seguiu seu caminho com as quatro garrafas de cerveja.

Entrando no apartamento, ela ainda estava na mesa da cozinha, fumando. Não tinha mexido em nada e ele ficou satisfeito com isso.

- Nossa! Como você demorou.
- Pois, é. Nem percebi.

Deixou as quatro garrafas na geladeira e terminou o que restava daquela primeira, que já estava quente, pelo gargalo mesmo.

- Tem copo aí!
- Eu sei.
- Você tá com uma cara!
- Pois é.
- Aconteceu alguma coisa?
- Você mexeu em alguma coisa?
- Não. Fiquei aqui sentadinha.
- Então não aconteceu nada.
- Mas você tá com uma cara!
- Pois é.

Ele não precisava daquilo. Não precisava dela ali. Precisava apenas ficar sozinho. Ficar sozinho tomando cerveja. Uma garrafa apenas bastava, se estivesse sozinho. Mas ela estava ali. E ele não precisava de nada daquilo.


- Você tá com uma cara feia mesmo! Aconteceu alguma coisa?
- Nada.
- Tá se sentindo bem?
- Não.
- Que aconteceu?
- Nada. Eu geralmente não me sinto bem.
- O que você tá sentindo?
- Nada.
- Ei. Responde pra mim.

De novo, a mesma coisa. Ele respondeu.

- Estou me sentindo como se tivesse me transformado numa barata.

Ele disso isso só por falar. Não esperava retorno algum. Mas falava sobre se sentir pequeno, sobre a vontade de se esconder, de desaparecer debaixo de algum móvel da sala, enfiar a cara na parede e esquecer do mundo. Era sobre isso que ele falava.

Ela respondeu.

- Nossa! Uma barata? Igual o Kafka, né?

Ele se surpreendeu. Olhou num silêncio os olhos dela e pensou: “Desgraçada! Você estragou tudo! Era só ficar calada!”. E depois disse.

- É, igual o Kafka.
- Ah! Eu sabia! O meu irmão, o Pitoco... a gente chama ele de Pitoco porque ele é o caçula. Ele chama Mateus, na verdade. Ele já leu esse livro e depois me contou a história. Contou que é a história de um homem que vira barata e expulsa toda a família de casa e depois vira o rei do lar. Tem a ver com capitalismo, não é?

Ele não se decepcionou. Ele não deu risada. Nunca gostou de sorrir na frente de pessoa qualquer.

- O Pitoco já leu muitos livros?
- Ele vive lendo. Depois conta as histórias pra mim.

Ele só perguntou pra confirmar. Ela mudou de assunto.

- Diz pra mim uma coisa... lá na festa... por que você me escolheu?
- Eu te escolhi?
- É, você!
- Como assim eu te escolhi?
- Ah! tinha aquela ruiva chapada dando em cima de você. Até que era bonita. Por que você me escolheu?

Não tinha ruiva. Não tinha nada, ele queria apenas voltar pra casa e ficar sozinho. Ficar sozinho tomando cerveja. Mas essa garota foi atrás. Foi e ele não impediu. Ele não sabia o que era bom ou mal pra sua vida. Só que por alguns instantes esqueceu o que era desnecessário.

Ele respondeu.

- Eu te escolhi e não escolhi a outra, a ruiva, porque ela me disse que Kafka era algum tipo de churrasco.
- Ah! Ah! Ah! Que engraçado!
- Você acredita?
- Bom, pelo menos você escolheu a mais inteligente! Não é?
- Pois é.

Ele sabia que ela não era nada inteligente. Sobre a ruiva, era apenas uma piada irônica. Ele não precisava daquilo. Sabia que a garota só queria sexo e talvez ficar no apartamento. Ele queria apenas ficar sozinho. Não precisava daquilo. Nem dela e nem de sexo.

- Vamos pra sala? Já conheço muito bem sua cozinha!

Ele abriu outra cerveja.

- Lá é mais confortável, você não acha?

Ela queria sexo mesmo, mas já estava sonolenta. “Mais uma garrafa e ela dorme”, ele pensou. Era a sua esperança.

Serviu a cerveja. Ao lado dela, no sofá.

- Então, quer saber?

Ele não queria saber. E quanto mais ela bebia, mais falava.

- Blá, Blá, Blá. Blá, Blá, Blá, Blá. Blá, Blá, Blá.

Ele não ouvia, mas repondia.

- Pois é.
- Blá, Blá, Blá. Blá, Blá, Blá, Blá. Blá, Blá, Blá.
- Pois é.
- Blá, Blá, Blá. Blá, Blá, Blá, Blá. Blá, Blá, Blá.
- Pois é.
- Blá, Blá, Blá. Blá, Blá, Blá, Blá. Blá, Blá, Blá
- Pois é.


Ele não precisava daquilo. Não suportava mais aquilo. Percebeu que a bebida não resolvia e se entregou: “Porra! Eu faço sexo com ela logo e acaba tudo isso. Se for bom, eu durmo e ela se cala. Se não for, eu durmo de qualquer forma.”. Foi o que ele pensou. Buscou mais outra garrafa. Não serviu, tomava no gargalo. Sentou mais pero dela, colocou as mãos em suas pernas e, fazer o quê?, iniciou o ritual. Ela sorriu de início. Depois olhou pra ele.

- Nossa! Que cara é essa?
- Que cara?
- A sua!
- É a minha.
- Nossa! Desculpe!
- O quê?
- Você tá com uma cara!
- De novo?
- Não, tá diferente!
- É a minha.
- Acho melhor ir embora. Acho que é bom você quer ficar sozinho.
- Quê?!
- É sério, desculpa! Só vou pegar minhas coisas.

Não houve despedida. Ela saiu e ele esperou pra trancar a porta. Ela não chamou o elevador e desceu pelas escadas. Ele pensou no ventinho da porta do elevador. Quando ela desapareceu no segundo lance de degraus, ele trancou a porta.

Atravessou a sala e chegou à cozinha. Sentou numa das cadeiras da mesa, acendeu um cigarro e terminou o que restava daquela garrafa de cerveja. Ficou ali um tempo.

Entrou no chuveiro e deixou a água morna cair pelo seu corpo durante dois minutos, depois se masturbou.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

.


Eu tinha um texto muito foda pra escrever.
Infelizmente, no bar, tinha muito barulho, nenhuma mesa, nem caneta.
Era um texto sobre... sobre::: sobre...
Um texto muito foda, juro!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

ADOLFO, O FUHRER

Primeiro sentamos envolta de uma mesa rústica de madeira, numa sala igualmente rústica e paramos, todos os quatro em silêncio, à espera ansiosa do nosso anfitrião. A poetisa de uma perna só foi até um dos quartos, equilibrando-se como podia, ora tocando as mãos na parede, ora apenas escorando o corpo – ficamos ali, olhando a cena. Ela já conhecia o lugar e tinha feito todos os preparativos para a nossa visita. Éramos então jovens estudantes universitários e estávamos atrás de uma boa matéria para estampar a capa da edição comemorativa dos quatro anos do nosso zine. Isso foi em 1987, em uma cidadezinha catarinense, afastada do Atlântico e das fronteiras estaduais. Um amontoado de pastos com minúsculas plantações de vilas aqui e acolá. Foi bem as três da tarde, que ele entrou na sala acompanhado da poetisa manca. Olhou-nos um por um e seus olhos continuavam os mesmos, na verdade, não mudara quase nada, o cabelo, agora branco, dava-lhe uma imagem envelhecida, embora nem um pouco cansada, exceto pelo bigode, que não usava mais, tudo permanecera igual. Sentou-se à mesa conosco e outras xícaras de café foram servidas. Fez um breve aceno para a poetisa, que a essa altura já sabíamos tratar-se de uma espécie de ajudante ou empregada, ela então foi até a enorme e antiga vitrola que ficava no corredor, entre a sala e um dos quartos, colocou Wagner para tocar. Foi a Isabel quem primeiro falou, estávamos todos nervosos demais e ele provavelmente percebera isso, serviu-nos outra rodada de café, enquanto ela fazia a introdução, daquela que seria a primeira de tantas perguntas que tínhamos a fazer. - São meus amigos – ele disse, e o sotaque e entonação daquelas suas primeiras palavras tornavam-no agora inconfundível até mesmo para nós, jovens aspirantes à jornalistas – eu os conheci bem, colhemos frutas às margens do Siena em 1943 – referia-se ao casal Eva e Henz Dickenback, pintores iniciantes, que depois fizeram muito sucesso com suas pinturas excêntricas-sexualistas sobre o holocausto, Hiroshima e Nagasaki. – O senhor realmente comeu a torta? – perguntei. A famosa torta recheada de cocaína e substâncias alucinógenas que os alemães andavam testando em seres humanos e que supostamente, depois de descoberta pelos aliados, foram utilizadas em experimentos da CIA na década seguinte e pelos Hippies, cerca de vinte anos depois – Cinco pedaços inteiros – ele disse, sem hesitar e então a poetisa trocou o disco da vitrola, continuamos nossa conversa, embalados por Carlos Gardel e um coro desafinado de dançarinas e tietes num especial para a TV Argentina – E aquela estória dos pombos? – foi o Otto que perguntou dessa vez – Não passa de boato, embora eu tenha realmente pintado alguns na primeira grande guerra – esse boato dos pombos pintados de verde e vermelho que apareceram na Inglaterra depois de terminada a guerra correra o mundo durante décadas, diziam tratar-se de cores místicas que de alguma forma prenunciavam o renascer de um radicalismo nacionalista alemão nos anos 60 – Pintei alguns, cerca de sete ou oito, mas nenhum de verde ou vermelho gostava mesmo era de azul – ele disse, passando a mão no queixo onde uma barba de três dias crescia. – Alguma razão para preferir pintar os pombos de azul? Isabel perguntou – Não, nenhum em especial, talvez fosse porque ficavam invisíveis quando estavam voando, apenas isso – então a poetisa aproximou-se dele, conversaram baixinho alguma coisa e logo depois ela apontou-nos o relógio. Nosso tempo tinha acabado. Pedimos para fazer umas fotos, mas não deixaram. Desligamos o gravador e fomos embora. Seguimos em um velho Passat pela estradinha de terra, com cercas de arame farpado dos dois lados. Seguimos em silêncio, talvez estivéssemos ainda sob o impacto da entrevista, de ter encontrado o endereço certo, depois de tanto tempo procurando. Agora finalmente tínhamos uma matéria interessante para a edição comemorativa do zine. – Qual será a frase da capa? – perguntei, e por um momento, todos ficaram pensativos, e foi a Isabel quem sugeriu: - Que tal, Pombos Invisíveis no Céu Azul – Gostei dessa – eu disse – Fechado – o Silvio falou pela primeira vez e então o Otto freou o carro com tudo, para dar passagem para duas vacas e um bezerro que passavam despreocupadas, cruzando a estradinha de terra.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Burrus


1 – Calem a boca! Gostaria que todos se calassem!

2 – Formulário laranja. Preenche em duas vias. Letras de fôrma sem rasuras. Entrega no guichê vinte e sete.

1 – Quê?

2 - Formulário laranja. Preenche em duas vias. Letras de fôrma sem rasuras. Entrega no guichê vinte e sete.

1 – Isso eu entendi!

2 – Então?

1 – Eles se calam?

2 – Com o protocolo do guichê vinte e sete, você entrega o formulário amarelo, totalmente preenchido com letres de fôrma e sem rasuras no guichê quarenta e dois, junto com uma carta redigida a próprio punho explicando detalhadamente a solicitação.

1 – Quê?

2 – Com o protocolo do guichê vinte e sete você entrega o formulário amarelo...

1 – Tudo bem! Tudo bem! Isso eu também entendi!

2 – Então?

1 – Eles se calam?

2 – No guichê quarenta e dois você vai precisar dos originais e cópias do RG, CPF, comprovante de residência, comprovante de casamento, se for o caso; caso não seja, certidão de nascimento, título de eleitor com os comprovantes de comparecimento das últimas quatro eleições, se for o caso; se acaso você for novo demais para tantas eleições, traga todos os comprovantes. Todos os comprovantes, inclusive os de comparecimento às eleições, devem estar descritos de forma clara na carta de solicitação redigida a próprio punho que, aliás, deverá ser sem pauta; uma folha branca de sulfite serve.

1 – E daí, eles se calam?

2 – Após comparecer ao guichê quarenta e dois entregando toda a documentação, originais e cópias, o senhor deverá aguardar. Se no período de quinze dias úteis o senhor não receber, na sua residência, a confirmação de entrada da sua solicitação, o senhor deverá comparecer no guichê cinqüenta e sete, com o formulário verde-esperança completamente preenchido com letras de fôrma e sem rasuras, além de toda a documentação solicitada anteriormente; originais e cópias.

1 – E quê mais?

2 – Ao entregar toda a documentação solicitada no guichê cinqüenta e sete, o senhor receberá o protocolo de reentrada de sua solicitação. Com o número de registro deste protocolo, o senhor poderá acompanhar a evolução do seu processo via internet, pelo nosso site na rede.

1 – Tudo bem! Tá certo! Já entendi tudo! Mas responde só uma coisa pra mim. Eles se calam?

2 – Senhor, isso vai depender da evolução do seu processo.

1 – Mas fala pra mim, alguma vez isso deu certo? Alguma vez eles já se calaram?

2 – Desculpe, senhor, este não é meu departamento. Não tenho acesso a este tipo de informação. E, se tivesse acesso, não poderia dá-la, pois correria o risco de ser administrativamente penalizada, de acordo com as diretrizes expostas no nosso manual interno de conduta funcional.

1 – Ah! Não é de seu departamento?

2 – Não, não é.

1 – E existe alguém do quadro funcional desse departamento por perto que possa me ajudar?

2 – A única funcionária disponível no momento, pelo que vejo, é aquela ali.

1 – Ei...

3 – Desculpe. Não posso ajudá-lo de nenhuma forma. Estou no meu horário de almoço.

1 – É só uma informação...

3 – Não posso. Perdão.

1 – Mas será possível?

2 – Posso ajudá-lo em mais alguma coisa senhor?

1 – Claro que pode! Pode sim! E pare de me chamar de senhor! Eu tenho menos da metade da tua idade! Me ajuda! Custa alguma coisa? Eu não vou te denunciar para ninguém! Fica só entre a gente!

2 – Senhor, já te disse que não posso. E peço que se acalme. Se o senhor continuar com essa postura, terei de chamar os seguranças.

1 – Seguranças? Seguranças? Você poderia chamar a polícia se eu tivesse uma arma nas mãos! Mataria primeiro você e seus manuais! Depois mataria aqueles que não se calam!

2 – Senhor, para a solicitação de armas de fogo, basta preencher o formulário azul e entregá-lo no guichê nove, com originais e cópias de RG e CPF. O senhor até que tem sorte, pois estamos em época de carnaval e a superintendência, para poupar-nos de tanto trabalho nestes dias de festas, não está exigindo o exame psicológico para a solicitação em questão!

Vício



Para amortecer a dor. Para mentir amor. Para dizer as palavras que eu não guardo em cadernos. Para fingir um mundo diferente. Para fugir do muito igual. Para cair do céu da noite. Sem paradas que possam me alcançar. Para subir os degraus da percepção, descendo os da vida. Para abreviar, justamente. Para esquecer. Ser esquecido. Para desaparecer, sustenido ou bemol, da harmonia do coro que canta. Para isso ou para aquilo. Para encontrar, seja lá o que for. Para rir e depois chorar. Para esperar com calma, que na espera não há descanso. Para não esperar. Não acreditar. Para cantar em outro tempo. Para não perder aos poucos o tino. Para perdê-lo de vez num único tiro. Para com os amigos. Para quando sozinho. Pára o mundo.

Sem medo. Sem frustrações. Sem sugestões. Sem perder. Sem nada a ganhar. Sem saldo. Sem silêncio. Sem sujeira, pena, pênalty. Sem sentido. Sem ou com música, com ritmo.
vamos prophanos é hora de comer a literatura de alma weit!!!!!!

lar doce lar


quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Espaço Cultural Pyndorama



Sábado agora, dia 10/11/2007, inaugura o Espaço Cultural Pyndorama!

Convite feito, espero que alguns compareçam!

Pertinho do Parque da Água Branca.

Endereço:

Rua Turiassú(çú), 481

Começa às 20:00hs, e pelo que penso, tora a noite adentro.

Estarei no bar, servindo...

Beijos!

A LOCOMOTIVA CHINESA

No ano de 1816 um navio chinês afundou nas águas do Oceano Indico, já perto da costa de Madagascar. Aportara cerca de trinta dias antes das Índias Orientais e carregava uma preciosa carga para a época: uma locomotiva com quarenta e quatro vagões, um presente do Imperador Tang para Dirceu Pontes, o famoso cantor de música popular portuguesa que encantava as platéias de Paris à Pequim desde o final do século XVIII. Dizem que a tal locomotiva tava recheada com uma carga no mínimo sinistra: milhares de caixões de cidadãos chineses que haviam morrido em uma devastadora e desconhecida epidemia. Na verdade, o Império Chinês queria livrar-se daqueles corpos com medo de que pudessem contaminar o resto da população, então os cerca de dez mil corpos foram colocados em caixões individuais, lacrados e a intenção era atira-los ao mar assim que o navio estivesse bem distante dos portos asiáticos, além, é claro, de continuar a viagem contornando o Cabo da Boa Esperança, até chegar em Lisboa, onde uma comitiva do Governo Português junto com a assessoria de imprensa de Dirceu Pontes fazia os preparativos para a festejada recepção. Acontece que o navio percorreu uma distância muito maior do que era previsto, com todo aquele peso excessivo dos cerca de dez mil caixões. Ele naufragou nas águas de Madagascar, perto de uma cidadezinha portuária que nem existe mais. O comandante do navio chinês, o americano naturalizado coreano (mas com olhos e pele chineses) Arnold Lee, tava distraído demais com suas 117 acompanhantes e esqueceu de atirar os caixões ao mar, quando o navio começou a afundar, contam até hoje os nativos da ilha de Madagascar, era possível enxergar milhares de fantasmas chineses enrolados em lençóis brancos, saindo de dentro da água, seguindo todos na direção do seu país de origem. Diz a lenda que o fantasma de Arnold Lee passou a guiar a locomotiva, percorrendo o fundo do mar numa viagem que continua até hoje, ele e os fantasmas das suas 117 amantes. E contam ainda, mas isso é coisa que só se comenta lá pras bandas de Portugal, que depois desse dia Dirceu Pontes nunca mais cantou uma única frase.